quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Conceitos e Características


           O livro é sobretudo, se passamos a um grau mais elevado, o símbolo do universo: O universo é um imenso livro, escreve Mohyddinibn-Arabi.
(CHEVALIER; GHEERBRANT, 2005,p. 554-555)

           Livro

O livro é o instrumento mais poderoso de que uma civilização pode se dispor para concentrar um pensamento de seus representantes e para difundi-lo no meio social, sendo importante para se guardar memórias de toda uma época.

Podemos definir o livro numa acepção mais ampla, como sendo todo e qualquer dispositivo através do qual uma civilização grava, fixa, memoriza para si e para a posteridade o conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas, de seus sistemas de crenças e os vôos de sua imaginação.
(MACHADO, 1994, p. 204)


Ao incluir ‘todo e qualquer dispositivo em seu discurso’, Machado se refere aos suportes antigos, como as placas de argila, o papiro, o pergaminho etc, mas também inclui os novos suportes, os novos meios que têm surgido com o tempo e o avanço da tecnologia, como o CD-ROM, a Internet, entre outros.
Assim, ao analisar a história e o desenvolvimento da escrita e do conhecimento da humanidade, percebe-se a dimensão dessa mídia ao longo do tempo e a sua importância, sendo um instrumento de registro de uma história e suporte natural da literatura, carregando um forte repertório cultural. Assim, Silveira, 2001, atribui ao livro na sua forma códice, como sendo:

o mais significativo objeto da cultura ocidental, tido como o arquivo de todo o nosso conhecimento, o registro de nosso comportamento e nossos afetos, o portador das leis e responsável pela transmissão da fé na mensagem divina.
 (SILVEIRA, 2008, p. 246)


É importante pensar na definição de livro, sua natureza e características, pois é por meio do livro de artista que se utilizam da estrutura de um livro para expressar experiências de espaço, tempo, movimento, sensações, materiais e signos, ou seja, os artistas utilizam da sua estrutura para realizar o seu trabalho artístico.
A diferença é que no livro de artista ou livro-objeto, em contrapartida com um livro ilustrado ou um livro de gravuras, os artistas se apropriam do livro como objeto de arte, estabelecendo relações entre a imagem e escrita no espaço da página, entre o seu formato e elementos que darão corpo ao livro, assim, a página é matéria expressiva. O livro de artista é a obra em forma de livro.

Um livro fechado significa a matéria virgem. Se está aberto, a matéria está fecundada. Fechado, o livro conserva seu segredo. Aberto, o conteúdo é tomado por quem o investiga. O coração é assim comparado a um livro: aberto, oferece seus pensamentos e seus sentimentos; fechado, ele os esconde.
(CHEVALIER; GHEERBRANT, 2005, p. 554-555)


     Sobre a dimensão espaço-temporal inerente ao livro, importante para se compreender a importância da sequencialidade presente em sua estrutura, temos como exemplo algumas transcrições de Carrión, extraídas do livro A página violada, de Paulo Silveira, no qual fala sobre a natureza sequencial do livro. A seguir:

Um livro é uma sequência de espaços.

Cada um desses espaços é percebido num momento diferente - um livro é também uma sequência de momentos. […]

Uma série de textos mais ou menos pequenos (poemas de outro) distribuídos por todo o livro, seguindo uma disposição específica, revela a natureza sequencial do livro.

Isto o revela, talvez o utilize; porém não o incorpora ou assimila. […]
O livro é uma sequência espaço-tempo. […]
(CARRIÓN apud SILVEIRA, 2008, p. 61)


A seguir, temos o Diagrama de Clive Phillpot, que Silveira nos apresenta em seu livro A Página Violada, no qual ilustra e propões intersecções ou áreas comuns ao campo dos livros comuns, dos livros de artista e da arte. O autor estabelece as seguintes definições:

Livro -Coleção de folhas em branco e/ou que portam imagens, usualmente fixadas
juntas por uma das bordas e refiladas nas outras para formar uma única sucessão de
folhas uniformes.
Livro de arte - Livro em que a arte ou o artista é o assunto.
Livro de artista – Livro em que um artista é o autor.
Arte do livro – Arte que emprega a forma do livro.
Livro-obra [book work] – Obra de arte dependente da estrutura de um livro.
(SILVEIRA, 2008, p. 47)


Figura – Diagrama de Clive Phillpot
“Books, Book Objects, Bookworks, Artists' Books”, em Artforum, maio de 1982



Fonte: Silveira, 2008, p.47

“O livro de artista pode ser apenas um livro convencional, pode ser um livro-objeto, ou pode ser um livro-obra, pertencendo tanto à arte como à bibliofilia. Em todos os casos eles podem ser únicos ou múltiplos.” (SILVEIRA, 2008, p. 47).

Livro de artista

Silveira, 2008, conceitua o termo Livro de Artista como sendo referente ao produto específico gerado a partir das experiências conceituais dos anos 60, é compreendido como um campo de atuação artística em que o artista pensa a construção do livro como obra de arte. Diversas nominações são dadas para este fim, podendo ser: livro de artista, livro-objeto, livro ilustrado, livro de arte, livro-poema, poema-livro, livro-arte, arte-livro, livro-obra, caderno de artista etc, sendo conceituado e caracterizado de acordo com o seu conceito e forma.
            Nas abordagens desse autor, percebe-se que encontram-se definições e indefinições do livro de artista, como por exemplo, que ele pode designar tanto a obra como a categoria artística, o seu conceito é ainda muito problemático, pois envolve outras questões como estética, literatura e comunicação, sua concepção e execução pode ser apenas parcialmente executada pelo artista, sua matéria não precisa necessariamente ser um livro, e sim apenas um referente a ele e, seus limites são expressados pelas divergências encontradas entre as propostas artísticas, plásticas ou de leitura que cada trabalho proporciona.
Em Tendências do Livro de Artista no Brasil, de Annateresa Fabris e Cacilda Teixeira da Costa, 1985, elas afirmam que o livro de artista pode ser conceituado a partir de duas vertentes, sendo elas:

- uma, mais abarcadora, baseada, num primeiro momento, na interação entre arte e literatura e que termina por abranger livros ilustrados, livros-objetos, livros únicos, encadernações artísticas, sem por isso deixar de levar em consideração aquela tendência que começa a delinear-se nos anos 60 e acaba por modificar radicalmente a prática e o significado do termo;
- outra, mais restritiva, que só considera livro de artista aquelas produções de baixo custo, formato simples, típicas da geração minimalista-conceitual, a qual, freqüentemente, tem no livro o único veiculo de registro e divulgação de suas bras. São porta-vozes desta categoria críticos como Richard Francis, Martin Attwood, Tim Guest, Germano Celant, além de Françoise Woimant, Anne Moeglin Delcroix as quais chegam até mesmo a propor uma diferenciação semântica entre "livro de bibliófilo", correspondente ao primeiro grupo, e "livro de artista", marco definidor da atitude conceitual e minimalista.
(FABRIS; COSTA, 1985, p. 3)

           
Quanto à forma do livro de artista, é importante pensar nos componentes que estarão presentes nele. Os seus elementos são relevantes para estabelecer a sequência na percepção ou na leitura, na interação mecânica do leitor ou fruidor.  A serialidade do livro é dada pelo seu corpo e estrutura, incluindo aspectos como formato e tamanho. A questão do tempo e narrativa também é importante para a dimensão visual e estrutural do livro, pois sua sequencialidade pode ser dada por dobraduras e encartes, possibilitando articulações em seu manuseio. Muitos artistas possuem conhecimento de encadernação e artesanato, que é imprescindível na construção de um livro que necessita de articulação ou agregação de materiais diversos, assim, o processo de construção de um livro está totalmente relacionado à proposta artística, pois o modo como o livro é apresentado atribui significado à poética do artista. No caso deste trabalho, em que se possui conhecimentos de técnicas de encadernação, pensar e elaborar num método que reforçe a poética que foi construída, foi um passo primordial para a concretização do mesmo.
     Beiguelman, 2003, fala das experiências possíveis em um livro impresso e digital, e na importância e experiência que cada meio pode fornecer ao público. Trata das transformações nas experiências de leitura que o meio digital pode fornecer, nas potencialidades de uma cultura que se conecta por redes on e off-line, assim, ela fala do diálogo promovido entre as mídias e seus repertórios.

…interroga-se um contexto de leitura mediado por interfaces conectadas em Rede, discutindo projetos criativos que têm como denominador comum o fato de expandirem e redirecionarem o sentido objetivo do livro, permitindo pensar experiências de leitura pautadas pela hibridização das mídias e cibridização dos espaços (online e offline).”
(BEIGUELMAN, 2003, p. 11)


Ocorreram transformações na forma de leitura, em novas formas de ler, que hoje ocorrem de forma integrada, implicando em novas técnicas de produção de textos, novos suportes de escrita e novas práticas da escrita.

O que está em jogo é a necessidade de engendrar não só repertórios capazes de transcender o formato do códex e a cultura material da página, como as únicas possibilidades para a exposição de idéias, mas também suas funções simbólicas, como as de suporte de memória, e econômicas, como o valor material da autoria.
(BEIGUELMAN, 2003, p. 15)





Suellen Vilela


            






























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