O livro é sobretudo, se passamos a um grau mais elevado, o símbolo do universo: O universo é um imenso livro, escreve Mohyddinibn-Arabi.
(CHEVALIER; GHEERBRANT, 2005,p. 554-555)
Livro
O livro é o instrumento
mais poderoso de que uma civilização pode se dispor para concentrar um
pensamento de seus representantes e para difundi-lo no meio social, sendo
importante para se guardar memórias de toda uma época.
Podemos definir
o livro numa acepção mais ampla, como sendo todo e qualquer dispositivo através
do qual uma civilização grava, fixa, memoriza para si e para a posteridade o
conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas, de seus sistemas de
crenças e os vôos de sua imaginação.
(MACHADO,
1994, p. 204)
Ao incluir ‘todo e
qualquer dispositivo em seu discurso’, Machado se refere aos suportes antigos,
como as placas de argila, o papiro, o pergaminho etc, mas também inclui os
novos suportes, os novos meios que têm surgido com o tempo e o avanço da
tecnologia, como o CD-ROM, a Internet, entre outros.
Assim, ao analisar a
história e o desenvolvimento da escrita e do conhecimento da humanidade,
percebe-se a dimensão dessa mídia ao longo do tempo e a sua importância, sendo
um instrumento de registro de uma história e suporte natural da literatura,
carregando um forte repertório cultural. Assim, Silveira, 2001, atribui ao
livro na sua forma códice, como sendo:
o mais significativo
objeto da cultura ocidental, tido como o arquivo de todo o nosso conhecimento,
o registro de nosso comportamento e nossos afetos, o portador das leis e
responsável pela transmissão da fé na mensagem divina.
(SILVEIRA, 2008, p. 246)
É importante pensar na definição de livro, sua natureza e
características, pois é por meio do livro de artista que se utilizam da
estrutura de um livro para expressar experiências de espaço, tempo, movimento,
sensações, materiais e signos, ou seja, os artistas utilizam da sua estrutura
para realizar o seu trabalho artístico.
A diferença é que no livro de
artista ou livro-objeto, em contrapartida com um livro ilustrado ou um livro de
gravuras, os artistas se apropriam do livro como objeto de arte, estabelecendo
relações entre a imagem e escrita no espaço da página, entre o seu formato e
elementos que darão corpo ao livro, assim, a página é matéria expressiva. O
livro de artista é a obra em forma de livro.
Um livro fechado significa a matéria virgem. Se
está aberto, a matéria está
fecundada. Fechado, o livro conserva
seu segredo. Aberto, o conteúdo é
tomado por quem o investiga. O coração é assim comparado a um livro: aberto, oferece seus pensamentos e seus
sentimentos; fechado, ele os
esconde.
(CHEVALIER; GHEERBRANT, 2005, p. 554-555)
Sobre
a dimensão espaço-temporal inerente ao livro, importante para se compreender a
importância da sequencialidade presente em sua estrutura, temos como exemplo
algumas transcrições de Carrión, extraídas do livro A página violada, de Paulo
Silveira, no qual fala sobre a natureza sequencial do livro. A seguir:
Um livro é uma
sequência de espaços.
Cada um desses
espaços é percebido num momento diferente - um livro é também uma sequência de
momentos. […]
Uma série de
textos mais ou menos pequenos (poemas de outro) distribuídos por todo o livro,
seguindo uma disposição específica, revela a natureza sequencial do livro.
Isto o revela,
talvez o utilize; porém não o incorpora ou assimila. […]
O
livro é uma sequência espaço-tempo. […]
(CARRIÓN apud SILVEIRA, 2008, p. 61)
A seguir, temos o
Diagrama de Clive Phillpot, que Silveira nos apresenta em seu livro A Página
Violada, no qual ilustra e propões intersecções ou áreas comuns ao campo dos
livros comuns, dos livros de artista e da arte. O autor estabelece as seguintes
definições:
Livro
-Coleção
de folhas em branco e/ou que portam imagens, usualmente fixadas
juntas por uma das bordas e refiladas
nas outras para formar uma única sucessão de
folhas uniformes.
Livro
de arte -
Livro em que a arte ou o artista é o assunto.
Livro
de artista –
Livro em que um artista é o autor.
Arte
do livro –
Arte que emprega a forma do livro.
Livro-obra [book work] – Obra de arte
dependente da estrutura de um livro.
(SILVEIRA,
2008, p. 47)
Figura
– Diagrama de Clive Phillpot
“Books, Book
Objects, Bookworks, Artists' Books”, em Artforum,
maio de 1982
Fonte: Silveira, 2008, p.47
Fonte: Silveira, 2008, p.47
“O livro de artista
pode ser apenas um livro convencional, pode ser um livro-objeto, ou pode ser um
livro-obra, pertencendo tanto à arte como à bibliofilia. Em todos os casos eles
podem ser únicos ou múltiplos.” (SILVEIRA, 2008, p. 47).
Livro
de artista
Silveira, 2008,
conceitua o termo Livro de Artista como sendo referente ao produto específico
gerado a partir das experiências conceituais dos anos 60, é compreendido como
um campo de atuação artística em que o artista pensa a construção do livro como
obra de arte. Diversas nominações são dadas para este fim, podendo ser: livro
de artista, livro-objeto, livro ilustrado, livro de arte, livro-poema,
poema-livro, livro-arte, arte-livro, livro-obra, caderno de artista etc, sendo
conceituado e caracterizado de acordo com o seu conceito e forma.
Nas
abordagens desse autor, percebe-se que encontram-se definições e indefinições
do livro de artista, como por exemplo, que ele pode designar tanto a obra como
a categoria artística, o seu conceito é ainda muito problemático, pois envolve
outras questões como estética, literatura e comunicação, sua concepção e
execução pode ser apenas parcialmente executada pelo artista, sua matéria não
precisa necessariamente ser um livro, e sim apenas um referente a ele e, seus
limites são expressados pelas divergências encontradas entre as propostas
artísticas, plásticas ou de leitura que cada trabalho proporciona.
Em Tendências do Livro de Artista no Brasil, de Annateresa Fabris e
Cacilda Teixeira da Costa, 1985, elas afirmam que o livro de artista pode ser
conceituado a partir de duas vertentes, sendo elas:
- uma, mais
abarcadora, baseada, num primeiro momento, na interação entre arte e literatura
e que termina por abranger livros ilustrados, livros-objetos, livros únicos,
encadernações artísticas, sem por isso deixar de levar em consideração aquela
tendência que começa a delinear-se nos anos 60 e acaba por modificar
radicalmente a prática e o significado do termo;
- outra, mais
restritiva, que só considera livro de artista aquelas produções de baixo custo,
formato simples, típicas da geração minimalista-conceitual, a qual,
freqüentemente, tem no livro o único veiculo de registro e divulgação de suas
bras. São porta-vozes desta categoria críticos como Richard Francis, Martin
Attwood, Tim Guest, Germano Celant, além de Françoise Woimant, Anne Moeglin Delcroix
as quais chegam até mesmo a propor uma diferenciação semântica entre
"livro de bibliófilo", correspondente ao primeiro grupo, e
"livro de artista", marco definidor da atitude conceitual e
minimalista.
(FABRIS;
COSTA, 1985, p. 3)
Quanto à forma do livro
de artista, é importante pensar nos componentes que estarão presentes nele. Os
seus elementos são relevantes para estabelecer a sequência na percepção ou na
leitura, na interação mecânica do leitor ou fruidor. A serialidade do livro é dada pelo seu corpo
e estrutura, incluindo aspectos como formato e tamanho. A questão do tempo e
narrativa também é importante para a dimensão visual e estrutural do livro,
pois sua sequencialidade pode ser dada por dobraduras e encartes,
possibilitando articulações em seu manuseio. Muitos artistas possuem
conhecimento de encadernação e artesanato, que é imprescindível na construção
de um livro que necessita de articulação ou agregação de materiais diversos,
assim, o processo de construção de um livro está totalmente relacionado à
proposta artística, pois o modo como o livro é apresentado atribui significado
à poética do artista. No caso deste trabalho, em que se possui conhecimentos de
técnicas de encadernação, pensar e elaborar num método que reforçe a poética
que foi construída, foi um passo primordial para a concretização do mesmo.
Beiguelman,
2003, fala das experiências possíveis em um livro impresso e digital, e na
importância e experiência que cada meio pode fornecer ao público. Trata das
transformações nas experiências de leitura que o meio digital pode fornecer,
nas potencialidades de uma cultura que se conecta por redes on e off-line,
assim, ela fala do diálogo promovido entre as mídias e seus repertórios.
…interroga-se um
contexto de leitura mediado por interfaces conectadas em Rede, discutindo
projetos criativos que têm como denominador comum o fato de expandirem e
redirecionarem o sentido objetivo do livro, permitindo pensar experiências de
leitura pautadas pela hibridização das mídias e cibridização dos espaços
(online e offline).”
(BEIGUELMAN,
2003, p. 11)
Ocorreram
transformações na forma de leitura, em novas formas de ler, que hoje ocorrem de
forma integrada, implicando em novas técnicas de produção de textos, novos
suportes de escrita e novas práticas da escrita.
O que está em
jogo é a necessidade de engendrar não só repertórios capazes de transcender o
formato do códex e a cultura material da página, como as únicas possibilidades
para a exposição de idéias, mas também suas funções simbólicas, como as de
suporte de memória, e econômicas, como o valor material da autoria.
(BEIGUELMAN,
2003, p. 15)
Suellen Vilela
Suellen Vilela
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